quarta-feira, 1 de julho de 2015

Segundo

Ontem a vida de todo mundo ganhou um segundo no tempo. Ontem as horas do meu dia testemunharam sublime produção e honesta arte, e não perdi nenhum minuto. A noite, essa sim, chegou com horas a mais no meu dia. A lua, esse astro íntimo, anda atrasando meu relógio mundano, pura biologia. Rasgando livros e escrevendo com pulso firme os tantos dias que estão por vir no acostamento do meu encontro.

Um segundo não existe. Duas horas não fazem sentido. Cem anos é pouco.

Não sei porque a queixa, já que, entre tantos segundos, já fui primeiro. Minh´alma quieta dobrou os ponteiros em movimentos metafísicos. E gritando também quebrou preciosidades antigas por capricho e deu corda para vistosos e despenteados amores.


Coração: Meu tempo é agora
Relógio:  Não sejas tolo, pobre coração. Bem sabes que eu não existo.
Coração: Então hei de criar um mundo onde as horas sejam verdade.
Relógio: Inútil tarefa, pobre colega.

E o relógio se apressou para explicar ao inquieto coração a seguinte sentença:

"Aqui na sua Terra também existe verdade. Pule nesse seu mar e sentirá a força do tempo fantasma, do tempo agora. O mar de verdade não perdoa o tempo. Se lhe faltar a superfície, breve humano, vai sucumbir ao chão desse oceano em poucas voltas do segundo."

E o mar assistiu e escutou, e pensou quieto e falou comigo. E suas palavras escrevo, quais foram: "Esse papo não tem fim, é inútil compreender. Eu sou quem congela e quem dá calor. Não preciso do tempo, e meu coração sai de mim em estrela e volta em nuvens. Eu me abasteço de mim, mas não sou auto-suficiente. Eu não seria tão grande sem esses tolos e bravos banhistas de amor e de tempo. Perderia meu sentido se em mim não navegassem precárias jangadas e imponentes naus, saindo e voltando para a terra firme do tempo e para os braços de seus amores. Será que existe mais valor nos peixes, que nem sequer sabem que você, pequeno humano, precisa sempre voltar à superfície, e que não vive sem terra firme? Ou teria o nobre humano seu elevado valor justamente por sua qualidade de amar o tempo?

O tempo não vive de respostas, e o amor não faz perguntas.




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