domingo, 6 de junho de 2010

Pantoprazol

Vejo um bando de gente chegando no hotel agora. Vejo pela pequena fresta que deixei aberta, porque minha janela é a mais visível do hotel. Todas essas pessoas estão conversando. Eu conversei hoje, e bastante. Mas elas, diferente de mim, não estão falando sozinhas. Alguém ouve elas, ou ao menos responde automaticamente alguma frase monossilábica qualquer. Quem me respondeu hoje, por enquanto, foi Bowie, Dylan e Nina Simone. mas eu não perguntei nada a eles.

Todo domingo tem sido tão pesado quanto assistir a morte de todos os seus queridos, e  bem de perto, e ter o sangue deles espirrado em sua roupa, e não ter pra onde ir depois que todos morreram esmagados por um descuido seu.

Tenho meu pai aqui, mas não posso depender exclusivamente dele. Não posso depender. Não posso pensar em curtir a vida. Não posso pensar em nada além do trabalho que não é o meu trabalho.

Não reclamo do meu trabalho como um trabalho tal qual se deve ter para ter dinheiro. Nisso, é muito bom.

Muito além disso, devo estar passando por uma fase de transição, e estou me perdendo nela.

Certamente isso está me afetando profundamente, e me assusta porque não sei o que serei daqui a um tempo, quando a necessária mudança tiver sido concretizada.

Não sei quanto tempo, em quanto tempo ou daqui a quanto tempo. Não sei do tempo, e não sei o que o tempo está fazendo, e o que eu estou fazendo com ele.

Maltratando alguma coisa estou certo que estou.

Deus, como eu queria que você existisse! E que aparecesse na forma de um estranho simpático que gosta de um bom som e que aceite tocar um violão e comer um lanche junto comigo nessa cidade fria e nessa vida gelada.