quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Enquanto Deus consentir, vou viver

Os discos precisam ser arrumados. Preciso ficar mais tempo com meus pais. O tempo é pouco, para qualquer coisa. E tocar, então? Há tempos não me sento em meu instrumento e toco como antes, com vigor e alma. A alma me escapa, nos minutos que não conto, e nas horas que passam sem importância. Sinto falta de esperar. Esperar não é de todo ruim. O cheiro, os cabelos, os adjetivos, os fatos bobos que aconteceram ao longo do dia sentem falta de serem contados. Esperar se torna um martírio. E não faço parte dos que se auto-flagelam. Não mais. Não mais me acabo em venenos noturnos, que desfiguram o corpo tangível, e com sede de mãos e boca. Sim, eu consumo minha alma, pouco visível e castigada por seu tutor. "Vou seguir o conselho de amigos..." Não procuro afogar nada mais no álcool, e não tenho amigos, senão os três da minha família. O jazz é meu amigo, a bateria, Paul McCartney e Ney Matogrosso. Mas eles não afagam meu físico. Físico. Corpo. Pele mesmo. Falta. O que me chega pelos ouvidos, e o que sai de minha boca não esquentam meu pescoço, nem puxam a coberta no meio da noite. Ficar indeciso entre um romance ou um drama, escolher não sair numa sexta-feira, e ainda assim ficar bem. Ter opções, e todas elas serem boas. Que dádiva! Quão feliz foi esse cara, que hoje inventa sonhos para tentar viver, e vai levando a vida bem morna que o despertador alerta. "Preciso andar p´ra não pensar..." (obrigado Cartola!). Escrevo ao sabor do vento, e sinto muito, e sinto nada, e não me preocupo o suficiente. E sinto medo sempre.

2 comentários:

Cecilia Egreja disse...

Belo texto! A propósito: você sempre foi melhor com as palavras do que com atitudes...

Decifra-me... disse...

Você escreve muito bem. Aos poucos tenho lido todos os posts.
Quanto a esse, citaria Los Hermanos: "Levo a vida devagar p´ra não faltar amor".
Até onde vai o divertimento das noites insones e regadas a álcool? Confesso que muitas delas são a válvula de escape para sentimentos que pertubam o coração.
Termino citando um outro músico (esse é meu amigo, Trevisan): "Sobram tantas meias verdades que guardo para mim mesmo, Sobram tantos medos que nem me protejo mais, Sobra tanto espaço dentro do abraço, falta tanta coisa p´ra dizer que nunca consigo"...
Beijão